Estava passando por uma banca de revistas, trajando a minha consagrada blusa de Stevie Ray Vaughan, quando ouço, um pouco abafado, para que eu não ouvisse, mas eu ouvi:

- Um merda desses andando com uma camisa do Ray, pode?

Eu olhei para trás, puto, já pensando em dar umas tapas, quando pego um susto. Não, o cara não era um armário, e sim um magrelo, de cabelos grandes, usando óculos grandes e uma camisa surrada do Pink Floyd. Passada a vontade de rir, perguntei:

- Ray? tinhas tanta intimidade com o cara, a ponto de soar o nome dele de forma tão gay?
- E daí, velho, é o meu guitarrista preferido, e tem um monte de manés por aí usando a camisa e nem sequer o conhecem.
- Teus outros guitarristas devem ter ciúmes. Estás magrelo por causa disso?

E ele foi embora dizendo que não podia discutir com alguém que não levava a sério.

Essa síndrome de fã ter o direito autoral sobre a obra do ídolo é muito chata. Os caras andam como se tivessem descoberto um portal para outra galáxia, e não querem que ninguém mais saiba, mas fazem de tudo para que desconfiem. Quantas bandas não são vítimas destes enfadonhos nerds extremistas? (sim, eu também tenho orgulho do meu lado nerd, mas não o deixo afetar minha socialidade) O nirvana é um bom exemplo, o Pink Floyd então, nem se fala, tem os piores fãs, acham que estão acima de tudo e de todos com aquele ar repulsivo e misterioso, e aquela raiva de ser perguntado pela mãe se quer nescau no leite. Os fãs de Motorhead são os melhores, estão sempre bem humorados. Os de Iron Maiden se acham críticos ferrenhos do heavy Metal e pinguços natos. Os fãs de Slayer acham que simular que estão babando de raiva tem a ver com sua virilidade. Os de Black metal, são os mais ridículos e intoleráveis. Imagine um black metal dando em cima da sua irmã: Eu sou o anjo que renegou os céus, que fez quente o inferno para consumir todo o amor possível deste mundo... mas quando te vi, tive a certeza de que todas as chamas das trevas pertencem a ti. O pior é acharem lógica em sintetizar filosofia contemporânea com as mensagens nórdicas das bandas norueguesas. Vai entender.

Por isso e por outras que tento ser normal: cabelo curto, roupa comum, linguajar um pouco popular. Estou a salvo dos seres malditos da cultura que usufruo.

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