Poucas palavras podem ter tantos conceitos quanto a habitualmente usada "cultura", dentre as quais está a que ressalva o ignorante, dizendo que cultura é o conjunto de valores, hábitos e costumes refinados pela sociedade. Daí nasce a afirmação de que a massa dita a cultura. Mas esta massa não tem apoio governamental, instrução educacional, o que geralmente proporciona o "isolamento intelectual", não permitindo o acesso dos mais deprivilegiados aos padrões necessários para a formação de uma opinião inteligente.

A alienação, como já afirmei várias vezes, tomou uma proporção tão grande no Brasil que se confundiu, entranhou-se na cultura de massa dificultando mais ainda a proliferação da benéfica sabedoria. A cultura de massa, permeada de promiscuidade, exacerbou-se de tal forma que tudo o mais que não remeta diretamente ao ardor carnal é preconcebidamente taxado de chato.

Mas como nasce toda esta cultura inútil de massa? Simples, pegue vários portugueses exploradores e inescrupulosos, mais um punhado de índios indefesos e perplexos, mais milhares de navios abarrotados de negros confusos, subestimados, destruídos interiormente, e bote num só país. Misture bem, e não se esqueça de criar os mestiços, filhos de índios ou negros com brancos. Deixe por 500 anos, a fogo baixo da exploração extrativista e desenfreada, depois aumente o fogo com a industrialização e o conseguinte governo elitista que explora os filhos da pátria e abre as pernas para os gringos. E está pronta uma miscigenação sem identidade que busca uma afirmação cultural sem fins que ajudem o bastante...

É engraçado quando dizem para mim, quando estou escutando qualquer tipo de música: "- Tu não tens cultura, ficas escutando estas coisas de fora, depois de ter tanta coisa boa por aqui." Ao que respondo: "- Tens razão, aqui tem muita coisa boa, que tu não sabes o que é, e que eu não conhecerei por não terem apoio popular ou governamental, ou mesmo elitista. Se eu escuto o que vem de fora, é porque lá podem sobreviver de sua boa música, enquanto aqui, morrerão de fome, sem propagar a cultura inteligente com a qual foram beneficiados..."

Isto tudo sem entrar no quesito "Globalização".

[ continua ]
Ouvindo: Could Is Being - Renaissance

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